Apontamentos

A Festa e as Festas

Nas suas diversas expressões, a Festa é um mosaico de vivências que estão alojadas nos nossos corações. São muitas as festas dentro da Festa. Na sua pluralidade vivencial, todas elas pretendem concorrer para «honrar Nossa Senhora dos Remédios».


Há três datas fundamentais para perceber a identidade - e a estrutura - da Festa: 1711, 1778 e 1894.


É de 1711, via Frei Agostinho de Santa Maria, que temos a informação mais antiga acerca da Festa. Isto significa que, antes de haver Santuário (inaugurado em 1761), já havia Festa de Nossa Senhora dos Remédios.


Em 1778, o dia principal da Festa passou a ser 8 de Setembro. Até então, havia duas festas anuais: uma na segunda-feira após o II Domingo da Páscoa (em que se comemorava Nossa Senhora dos Prazeres) e outra a 5 de Agosto (em que se evocava Santa Maria Maior).


Em 1894, foi introduzida a Procissão de Triunfo. E já nesse ano o cortejo saiu da Igreja das Chagas, sendo os andores transportados sempre por juntas de bois.
Tudo começou, porém, com a Novena, que terminava com a Missa do dia principal da Festa.


Até 1777, a Novena iniciava-se a 28 de Julho e era concluída a 5 de Agosto. A partir de 1778, a Novena vai de 30 de Agosto a 7 de Setembro. 


Em 1814, foi introduzida uma componente recreativa na Festa. Foi nesse ano que começou o Arraial na noite de 7 para 8 de Setembro. E data igualmente desse ano o início da Feira Franca de 7, 8 e 9 de Setembro.
Pretendia-se, com estes eventos, aumentar o número de peregrinos e o volume das receitas. Haja em vista que, nessa altura, estava em construção o Escadório. E, naqueles anos, era necessário custear as esculturas das figuras que ornamentam o famoso Pátio dos Reis.


Em 1897, organizaram-se os primeiros grupos para a ornamentação de algumas ruas. Em 1914, começa a «Batalha de Flores», em 1915 a «Parada Agrícola» e em 1924 a «Marcha Luminosa».


Foi em 1814 que, por assim dizer, a Festa «saiu» do Santuário. Os primeiros sinais exteriores da Festa foram a música e da feira. É nesse ano que o «Livro das Despesas da Irmandade» menciona a vinda de «músicos de milícias», o nome que se dava aos membros das bandas militares.
Eles foram com certeza contratados para animar a «feira franca» que, igualmente a partir desse ano, se realizou nos dias 7, 8 e 9 de Setembro.
O objectivo era fazer crescer o número de peregrinos e, consequentemente, o volume das receitas. É que, nessa altura, estava em curso a construção do Escadório e, mais concretamente, a execução das esculturas do Largo dos Reis. No rescaldo das invasões francesas (que atingiram Lamego em 1908), não estava a ser fácil satisfazer os diversos compromissos com os escultores.


Em 1815, foram introduzidos dois novos sinais exteriores da Festa: o fogo e a luz. Os custos com o fogo importavam em 22$000 réis e o investimento em luminárias ascendiam a 57$000 réis. 
Com o tempo, constituiu-se uma comissão para tratar expressamente do fogo. Sabemos que, por volta de 1870, o fogo (na dupla modalidade de fogo preso e do ar) era já lançado de várias partes do Escadório. 


Na década de 1870, a iluminação deixou de incidir apenas sobre a fachada do Santuário, passando a envolver também as colunas do Largo dos Reis. Da Festa de 1876 datam as primeiras projecções de luz eléctrica em Lamego. Dez anos mais tarde, a iluminação já se estendia até à Meia Laranja.  
Com o passar do tempo, já não era só a cidade a subir ao encontro da festa; era também a festa que descia ao encontro da cidade. A Festa começou a envolver igualmente o perímetro urbano. A primeira - e maior - realização festiva na cidade é a Procissão de Triunfo, desde 1894. 


A partir de 1897, já há notícias de grupos que se constituem para ornamentar e iluminar alguns locais citadinos. É o que acontece em Almacave, na Olaria, na Macário de Castro ou na Visconde de Guedes Teixeira.


Em 1914, a Mesa da Irmandade fazia notar que «se as festas eram também da cidade e dos seus habitantes e não apenas da Irmandade», os cidadãos de Lamego deviam «tomar a iniciativa de promover tais festas». Foi o embrião de várias comissões de festas. Estas começaram por se constituir em cada rua até se chegar ao figurino de uma única Comissão de Festas, a partir de 1934.


A «Batalha de Flores» começou precisamente em 1914, iniciativa do «Sport Club». A «Marcha Luminosa» iria ter o seu início dez anos depois, em 1924. A «Parada Agrícola» principiou em 1915 e foi um grande pólo de atracção durante alguns anos. Mais tarde, foram incluídos vários cortejos de cariz histórico e etnográfico.


Em todas estas - e em muitas outras - manifestações exteriores transluz o mesmo objectivo, ínsito em todos os cartazes: promover a «honra» de Nossa Senhora dos Remédios. Que assim (sempre) seja!

Outros Apontamentos